Olá!
Neste primeiro texto de 2019, vamos abordar uma questão importante e muitas vezes mais difícil de ser observada. De muitas maneiras e na maior parte das vezes de modo inconsciente, os pais acabam sendo atravessados por suas próprias concepções e ideias na hora de lidar com os filhos. Não há nada de equivocado nesse sentido e é até bastante natural que isso ocorra, mas vale frisar que também é necessário deixar que a criança possa ser ela própria.
Cada um dos pais começa a conceber uma ideia de quem é seu filho antes mesmo dele existir. As fantasias parentais em relação ao filho são atravessadas pelas próprias histórias desses cuidadores. Nesse sentido, podemos entender que tanto as histórias individuais de cada um quanto a própria trajetória dos pais como um casal contribuem para a construção dos ideais que eles nutrem em relação a como será seu filho. Qual o ideal de filho que cada um deles possui?
No início da vida, o bebê humano de fato ainda não diferencia o que é ele e o que é o outro. Depois, ele irá aos poucos começar a se distinguir da mãe inicialmente e posteriormente das outras pessoas em seu entorno. Esse movimento de diferenciar-se é uma conquista que o bebê irá obter aos poucos, mas que será facilitada pelo adulto que cuida dele. Isso significa que a mãe ou a figura de referência do bebê deve também criar condições para que ele possa ir se reconhecendo como um ser diferente dela, isto é, como outra pessoa.
A criança terá traços de identificação com os pais, mas é importante que eles saibam que ela não é única e exclusivamente a extensão deles, mas também um ser em separado, com características, desejos e formas de agir próprios. Ela terá sua própria ideia de mundo, suas crenças e ideais únicos, os quais são somente dela e de mais ninguém.
É importante que as figuras materna e paterna estejam dispostas a conhecê-la e a considerá-la como um indivíduo em separado, sobretudo em momentos de maior conflito ou sob maior estresse. Nem sempre a opinião da mãe ou do pai deverá obrigatoriamente prevalecer automaticamente, ou seja, é significativo considerar que a criança também pensa e o que ela pensa!
Seu filho, desde bebê, dará mostras de que não é igual a você. Afinal, se todos os filhos fossem apenas cópias de seus pais, não teríamos irmãos tão diferentes uns dos outros, não é mesmo?
É necessário abrir espaço para que seu filho possa ser ele mesmo. Uma mãe ou um pai conhecerão seu filho aos poucos, desde seu nascimento ou mesmo antes dele, e podem manter uma postura curiosa em relação a quem é aquele ser, para além do que idealizaram, pré-conceberam. Podemos chamar essa postura curiosa de uma posição de abertura em relação ao outro, com suas diferenças.
Pais que já sabem tudo o que é bom de antemão para seu filho limitam ou mesmo acabam com a possibilidade de descobrirem quem ele realmente é, adotando uma postura mais invasiva e menos disposta a uma construção em conjunto.
No próximo texto, iremos dar continuidade a essa temática, com ilustrações de situações e outros aspectos que merecem ser mais explorados.
Até lá!
Referência:
WINNICOTT, D. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.