Vivemos em um momento e em uma sociedade nos quais há uma exaltação da felicidade eterna e sem limites. Falar sobre o sofrimento e sobre as faltas que inevitavelmente iremos vivenciar quase não é permitido. Observamos adultos com muita dificuldade de aceitar que falham e que ficam extremamente frustrados quando a vida não lhes oferece o que tanto gostariam de ter. O que podemos esperar então desses adultos em relação à criação de seus filhos?

Embora o título desse texto faça referência à importância de dizer a palavra “não”, podemos entender essa questão de modo muito mais amplo. O que significa falar “não” para seu filho? Significa mostrar para ele que as faltas fazem parte da vida, todos temos que lidar com elas e isso é saudável. Isso pode soar como algo óbvio, não é?

No entanto, lembre-se: se você possui dificuldade para aceitar seus próprios erros ou encara as faltas que proporciona a seu filho como erros seus, talvez primeiro tenha que repensar a forma como você lida com essas questões. A criação do seu filho será reflexo disso, isto é, do modo como você encara também as suas próprias faltas. O que você faz com elas?

Observemos a seguinte situação, muito comum na vida dos pais e filhos: você está em uma loja de brinquedos e sua filha de 4 anos fica encantada com uma boneca que observa na prateleira da loja. Ela lhe pede para comprar a boneca e você imediatamente pensa que aquela boneca é muito cara e que seu orçamento está apertado. Resolve então comunicar à sua filha que não poderá lhe dar a boneca. Ela chora muito e alto. Você, sem saber o que fazer e tão angustiado quanto à sua filha de 4 anos por não ter dinheiro para comprar a boneca, resolve imediatamente comprar o brinquedo para ela, mesmo que na realidade não dispusesse daquele dinheiro para essa finalidade e não contasse com isso.

Sua filha sai da loja contente com a boneca, porém perdeu a experiência de compreender que tal brinquedo seria apenas uma das muitas frustrações que terá ao longo da vida. Ninguém está imune às benditas frustrações! Você, por sua vez, também não pôde lidar com a sua própria falta (a indisponibilidade financeira), angustiou-se ao ver sua filha chorando e imediatamente tentou tampar aquela falta que a boneca estava apenas materializando. Entendeu que seria um erro seu, quase insuportável para você mesmo, deixar sua filha sem a boneca.
Vale lembrar que provavelmente sua filha suportaria ficar sem a boneca e que a angústia mais intensa na situação narrada foi a sua. Os filhos podem ser entendidos, em certa medida, como extensões dos pais, isto é, a criança mostra para os pais aquilo que eles são também, pois é fruto deles, de como a enxergam, de como são vistos por ela e de como cuidam dela. Assim, não dar algo a seu filho pode significar não dar algo a si próprio em última instância. Significa pensar que você também terá que suportar o sentimento de não ter podido oferecer o que ela queria naquele exato momento.

Diante desse cenário, tenho uma boa notícia: você pode faltar em relação a seu filho, sem que isso represente necessariamente um problema nem para você e muito menos para ele. Muito pelo contrário, dar limites ao seu filho é também dar amor e cuidado.

No próximo texto, irei dar continuidade a essa temática e mostrar como a psicologia pode explicar o quão benéfico pode ser frustrar seu filho em alguns momentos, além de reconhecer os erros dele.

Até lá!