Tenho escutado nos últimos tempos muitos relatos de pacientes com sintomas intensos de ansiedade. Seguramente, os tempos atuais podem vir a despertar sentimentos e emoções diversos, tais como o medo e a insegurança, por exemplo, que podem ser considerados bastante desagradáveis. No entanto, vale ressaltar que a ansiedade corresponde justamente a algo que não conseguimos identificar exatamente do que se trata. Quando estamos mais ansiosos, há algo que nos incomoda fortemente, mas que não conseguimos observar de onde vem. Qual a origem deste incômodo e por que razão nos aflige tanto? Costumo dizer que a ansiedade é como uma agulha, que fica nos espetando a todo tempo, sem parar.

Neste sentido, é possível afirmar que o indivíduo que está ansioso, encontra-se tomado por um conflito interno com o qual não sabe lidar. As circunstâncias inéditas trazidas pela pandemia, tais como a necessidade de distanciamento social, de higienização mais regular e o convívio mais acentuado com os habitantes de uma mesma residência podem vir a acentuar tais conflitos mencionados. Além disso, não podemos deixar de mencionar também a aproximação com a ideia da finitude da própria vida, com a ameaça de morte que se tornou mais concreta e constante, além da efetiva perda de familiares, amigos ou até mesmo de pessoas menos próximas. Não mudamos somente a nossa rotina, mas todos tivemos que mudar sobretudo e de forma drástica a forma como concebíamos o mundo até então, nossa visão de mundo presumido.

As ilusões de garantias e de um falso controle sobre diferentes aspectos da vida foram perdidas, ou ao menos relativizadas, neste novo momento. Mudamos a forma de nos relacionarmos com nossos trabalhos, com os outros e até o modo como nos relacionamos conosco mesmo. Neste processo, alguns sujeitos conseguiram se adaptar de modo mais tranquilo, enquanto outros enfrentaram um sofrimento maior e isto significa dizer que a forma como cada um está enfrentando as adversidades trazidas pela pandemia é única e singular, ou seja, a pandemia não é a mesma para todos (seja devido a questões econômicas e sociais, mas também devido a questões internas de cada pessoa). A pandemia colocou todos  frente a frente com as suas fragilidades, até então mais facilmente colocadas para debaixo do tapete.

Diante de situações de maior angústia e de dificuldades de adaptação, é importante reconhecer a necessidade de pedir ajuda a um profissional de saúde mental. Não hesite em buscar auxílio psicológico, se sentir que não consegue lidar com seus problemas sozinho. Isto não é sinal de fragilidade  e sim de sabedoria. Não é necessário esperar seu sofrimento chegar ao limite para procurar um psicólogo.