A ansiedade é comumente avaliada por nós como um sentimento negativo, desagradável, com o qual simplesmente não queremos lidar, sendo vista muitas vezes como um empecilho que nos atrapalha em alguns momentos da vida e nos impede de progredir seja no âmbito pessoal, de relacionamentos ou profissional. Entretanto, em maior ou menor grau, invariavelmente teremos que enfrentar momentos em que tal sentimento se faz presente.

Qual de nós não têm lembranças de momentos mais ansiosos ainda durante a vida infantil, diante de provas escolares ou de apresentações de trabalhos para toda a classe? Já na vida adulta, é possível que fiquemos ansiosos diante de uma entrevista de emprego ou de um primeiro encontro amoroso esperado. Há também quem fique ansioso em situações que não são consideradas geradoras de ansiedade pelo senso comum, como estar em um ambiente com muitas pessoas, por exemplo. À primeira vista, podemos imaginar a ansiedade como um habitante indesejável em nosso mundo psíquico, o qual nos invade, interferindo nos objetivos que construímos para nós.

Mas, e se não pensarmos na ansiedade como um corpo estranho que aleatoriamente nos invade de fora para dentro e passarmos a pensá-la como um sentimento que pode nos dizer muito sobre nós mesmos? E se passarmos a enxergar a ansiedade como estando relacionada à nossa forma de vivenciar determinados episódios na vida? Cada um de nós fica mais ou menos ansioso em determinado momento e um mesmo contexto pode ser mais ansiogênico para uma pessoa do que para outra. Por que será?

Isso acontece porque o que nos desperta o sentimento de ansiedade está relacionado às nossas próprias vivências desde que nascemos. Freud já nos disse, em seu texto intitulado “Inibições, sintomas e ansiedade”, de 1926, que temos um modelo do que é o sentimento de ansiedade no próprio evento do nascimento, quando enfrentamos o sentimento de desamparo pela primeira vez. A partir desse momento e a depender da forma como somos cuidados e dos recursos de que iremos dispor para enfrentar as adversidades que nos são impostas, iremos lidar de um modo mais ou menos ansioso com as mais diversas situações da vida.

Desse modo, se constatamos que lidar com a ansiedade é inevitável, a pergunta que podemos fazer é: como lidar com esse sentimento quando ele extrapola nossa capacidade de tolerá-lo? Se o sentimento de ansiedade se apresentar em níveis muito altos, é o momento de avaliar se uma ajuda profissional pode ser importante para tentar pensar o que pode estar por trás desse afeto que adquire grande intensidade.

Todos nós somos ansiosos e a ansiedade pode até mesmo ser bem-vinda e autoprotetora, porém se ela atrapalha e torna-se fonte de extrema angústia, é o momento de refletir sobre o que não vai bem. A ansiedade é também sinal de alerta e, como tal, devemos dar-lhe a devida consideração.

 

Referência:

FREUD,S.(1926 [1925]). Inibições, Sintomas e Ansiedade. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud.vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.